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PR6 - Levada das 25 Fontes (Calheta - Madeira)

A Levada das 25 Fontes é um dos mais conhecidos trilhos da Ilha da Madeira. A sua popularidade leva a que todos os dias, inúmeros caminhantes percorram o trilho que termina na emblemática Lagoa das 25 Fontes.
Assim, acordámos ainda o sol mostrava os primeiros raios e fizemo-nos à estrada. Queríamos começar a caminhada cedo para evitar o congestionamento na levada.
Não fomos os primeiros a chegar ao inicio do trilho. Cerca de uma dezena de carros já estavam estacionados no pequeno “parque” em terra batida junto à E.R. 110 e um autocarro chegava nesse instante. A partir desse ponto só uma carrinha de transporte de passageiros (um serviço pago disponibilizado pelo Município da Calheta) poderia passar para levar os caminhantes até à Casa de Abrigo do Rabaçal (Rabacal Nature Spot Cafe), inicio do percurso oficial assinalado.
Preferimos começar a caminhar já para aquecer um pouco o corpo e descer a estrada enquanto uma névoa fria subia o vale. A pouco mais de 500m atravessámos o curso de uma ribeira e continuámos ziguezagueando pelo alcatrão até à Casa de Abrigo. Quando a névoa levantava, éramos presenteados com vistas soberbas para o vale e quase por instinto impunha-se uma pausa para as contemplar.
Na Casa de Abrigo do Rabaçal tomámos um café na companhia de uns cinco tentilhões que, sem medo, aproximavam-se de nós na esperança de receber algumas migalhas.
Mas estava na hora de continuar e metemos pés ao caminho. A poucos metros da casa podíamos optar por fazer também a variante PR 6.1 – Levada do Risco que nos levaria a uma impressionante queda de água. Esta ao formar um risco na rocha dá nome ao percurso que teria de ficar para outro dia pois o nosso foco era a Lagoa das 25 Fontes. Assim descemos os muitos degraus em pedra para chegar ao trilho que acompanha a levada até à lagoa. Este aqueduto construído pelo homem, numa vasta rede de irrigação, para vencer a orografia da ilha e levar as águas das nascentes aos campos de cultivo foi construído em 1835.

Um local idílico que parece retirado de um outro mundo.

Caminhamos em terra batida, aproveitando a sombra da densa mancha de floresta Laurissilva da Madeira, que desde 1999 é classificada como Património Mundial Natural da UNESCO. A espaços e quando a vegetação assim o permite, vislumbramos cenários cinematográficos em pano de fundo. O olhar percorre montanhas dramáticas cobertas por diferentes tons de verde e amarelo, resultantes das espécies de vegetação autóctone que por ali proliferam, com predominância da Urze Molar , Urze das Vassouras e Uveira da Serra. Algumas quedas de água cortam o manto colorido enquanto caem abruptamente para o vale. Sem dúvida inúmeros motivos de interesse que por si só já bastavam para esta caminhada valer a pena.
Em algumas secções onde o trilho era mais estreito, o cuidado era redobrado. Não que seja um percurso pedestre que considere perigoso, desde que se cumpram as regras básicas de segurança, mas com a Maria às costas, a preocupação é sempre maior e a progressão mais lenta.
Ao chegar à ponte sobre a Ribeira Grande vislumbramos ao longe a imponente queda de água do Risco, sendo esse o ponto final da variante PR 6.1. Depois da ponte subimos a escadaria em pedra ladeada pela levada e entrámos nos últimos 1300m do percurso. Aqui o trilho estreita e a segurança é reforçada com a colocação de varandins nas zonas mais sensíveis.

PR6 - Levada das 25 Fontes (Calheta - Madeira)

Chegámos por fim à Lagoa das 25 Fontes. Um local idílico que parece retirado de um outro mundo. Do alto cai a cascata principal e em ambos os lados desta observamos mais de 25 fontes formadas pelas águas que descem do Paúl da Serra. O enquadramento é feito por musgos, fetos e outra vegetação que cobre a rocha negra e reluzente da humidade presente no local.
Durante alguns instantes ainda conseguimos usufruir um pouco da tranquilidade deste lugar fantástico, mas pouco tempo depois eram já dezenas os turistas que ocupavam as pedras em redor à procura da melhor “selfie”. Todos queriam levar para casa um bocadinho do paraíso.
Estava na hora de regressar e aqui o prazer da caminhada terminou. Em sentido contrário encontrámos filas intermináveis de turistas, imensos grupos e excursões que transformaram a levada numa estrada nacional em hora de ponta. De 5 em 5 metros a paragem era inevitável para dar passagem a quem lá vinha. E recomeçávamos a caminhar novamente após alguns minutos de espera. E assim foi, nestes soluços, até ao final do percurso.

PR6 - Levada das 25 Fontes (Calheta - Madeira)

Um episódio triste que ficará para sempre associado à memória deste percurso foi o facto de uma guia, que caminhava com os seus clientes em sentido contrário, ter “pedido” de uma forma algo rude e vigorosa a todos os que encontrava à frente para que se desviássem para a parte exterior da levada, junto ao abismo. Nós com a nossa filha às costas, por segurança, enquanto esperávamos para dar passagem a quem vinha em sentido contrário, virávamos sempre a Maria para o lado interior, ou seja, o lado mais protegido junto à rocha.
Era o mais seguro, não colocávamos ninguém em perigo e todos conseguiam passar. Expliquei os motivos porque não o iria fazer e após alguma troca de palavras e o espanto e indignação de todos os que presenciaram a situação, optámos por recuar para uma zona mais larga do trilho onde haveria o espaço que a guia “precisava” para passar com os seus clientes.
Talvez seja urgente tomar medidas para que este espaço natural possa ser usufruído em pleno por todos, sem prejudicar o negócio de alguns mas também permitindo a caminhantes autónomos o direito de o descobrir.
Foi algo que em mais de uma década de caminhadas regulares nunca nos tinha acontecido, estas “atitudes de posse” não fazem efectivamente parte de quem nos habituámos a encontrar nestas andanças. E assim continuamos a acreditar que seja.
Chegámos cansados e um pouco saturados à Casa de Abrigo do Rabaçal. Soube-nos bem relaxar nos bancos do jardim, a degustar um bolo do caco com bacon, ovo e salada ou apenas simples com manteiga de alho.
Regressámos ao carro para seguir para o próximo destino: as Piscinas Naturais do Porto Moniz.

Pontos de Interesse:

Casa de Abrigo do Rabaçal, Paisagens, Levada, Cascata do Risco, Lagoa e Quedas de Água das 25 Fontes.

Dicas:

  • Começar o percurso o mais cedo possível para evitar o congestionamento no trilho.
  • Este percurso pode provocar vertigens. Tem varandins nas secções mais complicadas mas tenha cuidado, especialmente ao dar passagem aos outros caminhantes.
  • Petiscar na Casa de Abrigo do Rabaçal (Rabacal Nature Spot Cafe).
  • Se as pernas estiverem cansadas, a subida de regresso ao carro, desde a Casa de Abrigo do Rabaçal (cerca de 2km), pode ser feita numa carrinha disponibilizada pelo Município da Calheta, pagando alguns euros (3€ por pessoa só ida e 5€ ida e volta aquando da nossa visita) pelo transporte.
  • Junto à Casa de Abrigo do Rabaçal tem WC’s públicos.

Fontes:

FICHA TÉCNICA

Marcação
5/5marcação

Dificuldade
3/5dificuldade

Paisagem
4/5paisagem

Elevação mínima
946melevação mínima

Elevação máxima
1291melevação máxima

Subida acumulada
723msubida acumulada

Descida acumulada
728mdescida acumulada

Distância
10,3kmlinear
ida e volta

Tempo
5h:00m
 
ALTIMETRIA
Altimetria
 
DOWNLOAD GPS (GPX + KML)

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