A manhã estava fria quando cheguei a Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova. A aldeia ergue-se no horizonte a quem perto dela passa. E quem apenas passa e não a visita, não imagina o que perde com tamanho desleixo.
Cheguei ao Largo do Chão da Igreja onde a povoação apresenta-se aos visitantes. Um surpreendente tanque de combate evoca a memória dos combatentes de Penha Garcia que participaram na Guerra do Ultramar, bem como do 25 de Abril, a Revolução dos Cravos. Há mais de 30 anos exposto, foi cedido à Junta de Freguesia local numa época em que era normal as Forças Armadas cederem veículos militares abatidos. Está hoje integrado numa instalação da escultora Ana Mena e dá as boas vindas a quem chega.
No pequeno café do largo, encontrei tempo para uma breve bica. As placas de madeira em frente ao café indicavam o caminho a seguir e não me fiz rogado. Subi a rua em calçada ao mesmo tempo que no sentido contrário desciam dois magníficos cavalos a trote. As suas ferraduras em contacto com a pedra antiga produziam um sonoro “clac, clac, clac” ritmado que ecoava por toda a aldeia.
O casario, maioritariamente tradicional, transporta-me para tempos já idos. O pelourinho que data do longínquo reinado de D. Sebastião, engrandece ainda mais esta povoação de ruas íngremes e sinuosas.
Continuo a subir em direcção à Igreja Matriz. Aqui, o miradouro dá-me uma panorâmica do percurso que se desenvolve pelo vale. Observo a barragem de Penha Garcia, as formações geológicas onde iria descobrir os afamados fósseis e os velhos moinhos de rodízios.
Inicio agora a descida para o Rio Pônsul, num caminho já mais estreito mas ainda em calçada, ladeado por um muro alto que segura as terras dos terrenos agrícolas. Uma secção de degraus em pedra de formas irregulares levam-me ao encontro de algumas antigas casas das gentes locais, agora infelizmente em ruínas. Mais adiante atravesso uma selva de cactos impressionante. Dispõem-se cerradamente dos dois lados do trilho, florescendo em pétalas amarelas nas suas extremidades.
Continuo a descida e já perto das margens do Pônsul, acompanho o curso de uma levada e atravesso pequenas pontes de madeira que me encaminham literalmente para o interior de uma antiga habitação.
Atravesso a sala de dimensões limitadas onde, numa das paredes, uma imponente lareira se destaca. Com certeza seria indispensável nos dias frios de Inverno.
Chego à Fonte do Pego, uma piscina natural que faz as delícias dos habitantes da região na época estival. Esta é uma zona bem preservada e adequadamente preparada para bem receber os veraneantes. A pequena queda de água dá vida a todo o cenário. Com várias secções, socalcos e pontes é um prazer caminhar por aqui.
A um olhar mais atento vou descobrindo os fósseis que dão o nome a esta rota, vestígios da vida existente há 600 milhões de anos atrás.
Chego agora aos moinhos de rodízios, um património importante do concelho de Idanha-a-Nova. É possível aqui conhecer e compreender melhor a vida e a arte de quem fazia do pão uma referência no seu quotidiano. São muitos os utensílios que encontrei expostos no interior de um deles.
Continuo em direcção à barragem que atravesso para a outra encosta do vale. Imagino como seria a vida neste vale sem esta imponente parede de betão. Imagino a força do rio a correr livremente. Imagino a vida noutros tempos.
Subo em direcção ao Castelo que lá do alto acompanha toda a caminhada. Paro na Gruta da Lapa para encontrar mais uns fósseis de seres que provam que esta região já foi um leito marinho. Incrível, não é?
O Castelo, em tempos idos protector da aldeia, é hoje um miradouro com vistas desafogadas para todos os pontos cardeais. Vejo ao longe a Aldeia Histórica de Monsanto. Era para lá que iria seguir agora que estava a terminar o percurso.
Regresso ao Largo do Chão da Igreja após cerca de 1h e 45m, terminando assim o PR3 – Rota dos Fósseis.
FICHA TÉCNICA
Distância
2,90 kms
(circular)
ALTIMETRIA
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