A pouco mais de 5 kms de Vidago, no concelho de Chaves, fica a pacata e bonita aldeia de Vilas Boas. Foi já ao final da tarde que percorri a calçada da Estrada Nacional 549 (EN549) que, depois de Valverde, me levou até à Quinta do Olival, mesmo à entrada da aldeia.
O conjunto edificado em pedra, transmite-nos o genuíno aconchego das típicas casas transmontanas. Após uma visita guiada às instalações, onde para além da comodidade dos quartos em ambiente rural, os hóspedes podem usufruir do ginásio, da piscina e do jacuzzi, fomos no jipe do Sr. Luís, incansável nesta sua paixão e aventura, fazer o reconhecimento dos vários percursos pedestres a realizar nos próximos dias.
A noite chegou e com ela o descanso revigorante.
Foi bem cedo na manhã seguinte que iniciei a primeira caminhada. O percurso escolhido levaria-me à Capela de Santa Bárbara, o ponto mais alto do trilho. Sendo o local de referência deste percurso, denominei-o por isso “Percurso Pedestre de Santa Bárbara”.
Comecei a caminhar na EN549 em direcção a Vidago. A cerca de 750m dos limites de Vilas Boas virei à direita num caminho em terra batida que se desenvolve para o interior da serra, em direcção ao Monte de Santa Bárbara, por altitudes que aumentam a cada passo dado.
Deixo a aldeia para trás quando os terrenos agrícolas e de pastoreio são cada vez mais escassos. O manto de vegetação autóctone cobre agora os campos e alguns afloramentos rochosos surgem moldando a paisagem, originando formas curiosas que espicaçam a imaginação. Ao longe vejo já no alto a Capela de Santa Bárbara.
No sopé do monte com o mesmo nome, cruzo-me com uma anciã que, ainda um exemplo de força e determinação, caminhava vigorosamente para a sua terra de cultivo, provavelmente o seu maior sustento e a sua “fonte da eterna juventude”. As culturas não podem esperar e mesmo com alguma chuva a ameaçar cair do céu, nada a iria impedir de cumprir a labuta diária.
Contorno o monte e subo à capela pelo caminho bem definido. Deparo-me com uma paisagem de cortar a respiração sobre toda a região envolvente. O céu carregado dava mais dramatismo a todo aquele quadro, com castelos de nuvens brancas e cinzentas a erguerem-se no horizonte. Num dia de céu limpo, o olhar consegue mesmo chegar a Verin, já em terras de Espanha, mas infelizmente hoje não era o caso.
A Capela de Santa Bárbara, no cimo da escadaria, ergue-se imponente apesar da sua pequena dimensão. É como a cabeça de um grande gigante que observa e vigia tudo ao seu redor.
No enorme rochedo que ampara a capela, o marco geodésico assinala o ponto mais alto a 775m de altitude. Contam-se várias histórias de fugas, acampamentos militares e invasões que têm este local como denominador comum. Percebe-se o porquê da sua escolha pois, devido à sua localização privilegiada, era um ponto importante de vigilância e estratégia militar. Consta-se que foi um dos locais escolhidos pelas legiões romanas para acampar, aquando das suas invasões. Existe mesmo referência a um castro que ali existiu mas não encontrei vestígios disso. As suas encostas foram escolhidas para, em 1809, o General Silveira partir com o seu exército do acampamento onde se tinha refugiado e reconquistar Chaves, durante as Invasões Francesas. Em 1823, foram também lugar de lutas entre Absolutistas e Liberais, numa época conturbada para a monarquia em Portugal.
A temperatura desceu num ápice e visto rapidamente o impermeável, prevendo alguns pingos de chuva que entretanto começaram a cair. Hidrato-me olhando uma última vez para aquela paisagem e preparo-me para iniciar a descida.
Sigo agora em direcção à aldeia de Ventuzelos. Os seus habitantes cumprem tarefas agrícolas e de pastoreio à minha passagem. Respira-se paz enquanto caminho na estrada principal que atravessa a povoação. Um dia tranquilo e igual a tantos outros, nesta aldeia transmontana.
A descida para Vilas Boas faz-se por trilhos estreitos de serra e pinhal, com vistas para o rico e verdejante Vale da Ribeira de Loivos e mais adiante o Vale da Ribeira de Oura. Não é difícil encontrar pequenas vinhas que descem os montes em direcção ao vale. Esta é uma região de produção vinícola e bem interessante por sinal, como pude comprovar.
Ao chegar a Vilas Boas, os pinhais tornam-se mais densos e as sombras mais refrescantes. Aproveito para dar os últimos goles de água antes de entrar na aldeia.
Termino assim um percurso circular e bem equilibrado, com pouco mais de 8 kms distribuídos por diferentes secções e ambientes representativos de Trás-os-Montes.

FICHA TÉCNICA
Folheto/Mapa
Não
disponível
Distância
8,47 kms
(circular)
ALTIMETRIA
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