Percurso Pedestre de Pitões das Júnias (Montalegre)
O caminho é longo para chegar a Pitões das Júnias, mas à chegada soube de imediato que o tempo gasto na distância percorrida iria ser largamente compensado.
Esta aldeia transmontana do concelho de Montalegre situa-se a pouco mais de 1100m de altitude no Parque Nacional Peneda-Gerês e é por isso a povoação mais alta das Terras de Barroso. O isolamento, o clima inóspito e a procura dos seus habitantes por condições de vida melhores, levou ao gradual abandono da aldeia mas isso tornou-a ainda mais pitoresca e hoje os poucos habitantes que resistem, maioritariamente agricultores e pastores, fazem jus a uma história de valentia e persistência que abraçaram ao longo de várias gerações.
Começo a caminhada à entrada da aldeia onde uma imagem de Santa Maria das Júnias dá as boas vindas a quem passa. Deixo o piso em alcatrão e percorro a calçada que me guia para o centro da povoação. As construções maioritariamente graníticas em conjunto com a localização remota, fomentam o turismo especialmente nos meses de Verão. Consigo facilmente perceber o porquê. A beleza desta aldeia é surpreendente, o seu enquadramento a esta altitude, partilhando os cumes das montanhas em redor e com o vale aos seus pés, faz-me, como Miguel Torga, “invejar os monges felizes que aqui humildemente penitenciaram e pacificaram a alma atormentada”.
Percorro as ruas da aldeia onde algumas placas de madeira gravadas me vão indicando os pontos mais turísticos da povoação. Por entre os muros de granito, vejo lá em baixo as águas da Albufeira da Barragem de Paradela enquanto me encaminho agora para o Mosteiro de Santa Maria das Júnias.
A beleza desta aldeia é surpreendente, o seu enquadramento a esta altitude, partilhando os cumes das montanhas em redor e com o vale aos seus pés, faz-me, como Miguel Torga, “invejar os monges felizes…”
Junto ao cemitério, já fora da aldeia, passo pela Capela do Anjo da Guarda a 1132m de altitude e inicio a descida para o Mosteiro num trilho bem definido em calçada. Nos campos ainda é possível observar vestígios de um incêndio não muito distante no tempo. Contrastando com os ramos secos e queimados, algumas urzes florescem e vão ocupando o espaço deixado vago na terra. Cabeças de gado aproveitam o vale fértil para saciar a fome e não se preocupam muito com que por ali anda.
O trilho cada vez mais estreito é agora definido por grandes lages que ziguezagueiam na descida até ao Mosteiro de Santa Maria das Júnias. E no fundo do vale lá está ele, camuflado e isolado do mundo, junto a um pequeno curso de água do Ribeiro de Camposinho. Esta água segue o seu rumo libertando-se das margens um pouco mais adiante na grande cascata com cerca de 40 metros. Percorro com cuidado as ruínas do Mosteiro pois o aviso “Ruína Instável – Risco de Desabamento” não deixa grandes dúvidas sobre o grau de conservação deste património. Apesar do avançado estado de degradação aquando da minha visita, a sua humilde beleza ainda impressiona. Este convento da Ordem de Cister dedicado a Santa Maria, sofreu de vários incêndios, do abandono e da erosão do tempo mas apesar de tudo, é possível distinguir as diferentes áreas da edificação, como a igreja e o seu pórtico, a torre, o cemitério dos monges dentro da igreja e o da população fora, o portal gótico com dois animais de guarda, o imponente forno, os 3 arcos remanescentes de um claustro românico ou ainda a eira lajeada e o moinho na outra margem do pequeno ribeiro.
Deixo este vale mágico e subo novamente para encontrar o caminho que me guiará até ao miradouro da cascata. Com as montanhas da Serra do Gerês como pano de fundo inicio a descida em calçada e depois em grandes lages graníticas que desembocam num passadiço de madeira. Desço as escadas já nos metros finais e encontro a vertiginosa cascata que cai dramaticamente das íngremes escarpas rochosas.
O regresso à aldeia é agora feito com a ajuda da sinalização, num antigo caminho rural, observando calmamente os “prados de lima”, assim denominados porque a água que corre permanentemente por eles, permite que mantenham uma temperatura impeditiva à formação de gelo no Inverno.
Foi a muito custo que me despedi de Pitões das Júnias, mas os dias de aventura no Gerês estavam a terminar e o regresso a casa era inevitável.
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