A minha aventura nos Açores estava a chegar ao fim. Pelo menos por agora. Este era o último dia na Ilha de São Miguel antes de regressar ao continente.
Uns dias antes estive numa pequena loja de comércio tradicional no centro de Ribeira Grande, para comprar uma pequena lembrança para o meu sobrinho. Em conversa com a simpática dona (e entre outros temas abordados como a deliciosa pimenta da ilha, os queijos a acompanhar, as cebolas curtidas e como as fazer, etc…) surgiu a referência ao Salto do Prego como um dos locais que deveria visitar na ilha.
Guardei para o último dia esta caminhada.
Sendo um percurso circular, começa e termina no Faial da Terra, no concelho da Povoação.
Esta localidade situa-se num vale lindíssimo e desenvolve-se ao longo do curso da Ribeira do Faial da Terra que por ela atravessa. Assim que cheguei, encontrei junto à ponte e ao lado da paragem de autocarros, o painel com a informação do percurso.
Iniciei a subida na estrada de asfalto e ao fim de cerca de 300m encontrei uma bifurcação com as indicações “Salto do Prego” para a direita e “Sanguinho” para a esquerda. Segui para a direita em direcção ao Salto do Prego. Sempre a acompanhar a margem da ribeira, o casario ficava agora para trás e entrava mais densamente na mata.
Passo pelas ruínas de um antigo moinho e continuo no trilho que, por vezes estreito, é também delimitado por uma cerca de corda ou madeira nas zonas mais perigosas. Chego a uma pequena ponte e aqui inicio uma subida mais acentuada. A ribeira assume em toda a caminhada um papel de particular relevo mas aqui especialmente, com o seu caudal a formar algumas quedas de águas que se escapam por entre as pedras do caminho.
No final desta subida viro à direita em direcção à cascata do Salto do Prego. Estou agora cada vez mais perto. O som da queda de água era já perfeitamente audível.
Após uma última curva no trilho vejo por entre as acácias a famosa queda de água.
Que lugar fantástico este. A cascata forma uma pequena lagoa abraçada por rocha negra e uma vegetação cerrada em verdes de diferentes tonalidades.
É difícil descrever por palavras este lugar encantado.
Sentei-me numa enorme pedra polida em frente à cascata onde comi uma sandes e uma peça de fruta. Era chegada a altura de uma pausa para retemperar forças. Comi devagar, muito devagar. Queria prolongar aquele instante.
Regressei, triste por virar costas àquele pequeno paraíso mas feliz também por o ter encontrado, pelo mesmo trilho até encontrar a bifurcação com a indicação de “Sanguinho”, a antiga aldeia abandonada, agora em processo de recuperação. Esta aldeia perdida na serra e de difíceis acessos, foi habitada durante mais de um século por uma população que a utilizava como refúgio das cheias da Ribeira do Faial da Terra. A riqueza dos seus solos era propicia para a agricultura.
O nome de “Sanguinho”, que deu origem à aldeia, deriva de uma planta endémica dos Açores e Madeira e que outrora teria sido muito abundante nesta região.
Encontro agora à minha passagem, antigas habitações algumas ainda em ruínas, outras em processo de restauro e outras ainda já recuperadas. Com nova vida, está pronta a receber turistas que apreciem o contacto mais intimo com a natureza e a tranquilidade inerente a uma aldeia longe de tudo. É maravilhoso caminhar por ali e tentar imaginar as histórias e o dia a dia de quem naquelas casas viveu.
Entro agora na secção final do trilho, serpenteando na descida em calçada até ao ponto onde iniciei a caminhada. A paisagem é deslumbrante. O casario do Faial da Terra distribuído pelo vale, ao longo da ribeira com o mesmo nome, torna estas últimas imagens do trilho muito peculiares e inesquecíveis.
FICHA TÉCNICA
Distância
5,42 kms
(circular)
ALTIMETRIA
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