Berlenga Hiking Trail – Berlengas (Peniche)
Viajar para uma ilha é descobrir uma porta para um outro mundo. Um mundo de sentidos, odores e prazeres visuais que dificilmente encontramos em outros locais.
Uma ilha encerra em si um habitat especifico, um certo misticismo transmitido talvez pelo isolamento oferecido pelo mar.
As Berlengas não são excepção. Mas nelas são as aves marinhas que mais ordenam, parafraseando a canção.
Protegidas por água a toda a volta, isoladas da invasão do mundo exterior, o espaço é delas. Gaivotas-argênteas, corvos-marinhos-de-crista, falcões-peregrinos, cagarras e airos, cada metro quadrado lhes pertence. Cada metro cúbico de ar é constantemente invadido pelo seu cantar. É difícil não nos sentirmos os “invasores” em casa alheia.
Este “mundo” fica localizado a 5,7 milhas de distância do Cabo Carvoeiro e é composto por 3 grupos de ilhéus: Berlenga Grande (e recifes adjacentes), Estelas e Farilhões-Forcadas.
A ilha principal, a Berlenga Grande, onde este percurso se realizou tem cerca de 1500 metros de comprimento, 800 metros de largura e 85 metros de altura. As suas condições climatéricas proporcionam características faunísticas e florísticas que fazem deste arquipélago um ecossistema único no mundo. Ao arquipélago foi atribuído o estatuto de Reserva Natural em 03 de Setembro de 1981.
As grutas espalhadas pelo granito róseo da ilha são uma das principais atracções, mas são as suas águas abundantes em peixe, tranquilas e transparentes que mais nos lembram uma qualquer ilha tropical do nosso imaginário. O próximo post será dedicado a uma deliciosa viagem de barco por essas grutas (um pouco “off-topic” do tema do blog mas não poderia deixar de o registar).
Chegámos ao pequeno porto já o sol ia alto e no bairro dos pescadores a azafama era já evidente. Iniciavam-se os preparativos para o almoço.
O carvão aguardava nos fogareiros pela hora certa, altura em que conferiria ao peixe fresco que nele se deitava aquele sabor tão especialmente apreciado.
Ao fundo, encaixada entre os penhascos, a pequena praia do Carreiro do Mosteiro estava já repleta de turistas que desfrutavam de algumas horas de sol e se refrescavam nas águas translúcidas.
Subimos pelo trilho bem delimitado em direcção ao Forte de São João Baptista. Como Reserva Natural, não há livre acesso a toda a ilha pelo que é frequente encontrarmos sinalização que nos lembra isso mesmo.
No topo, o farol construído em 1841 guarda a ilha e quem dela se aproxima. Com 29 metros de altura acumula energia através de painéis solares que depois a transmite em forma de luz a cerca de 50 km de distância.
Algumas centenas de metros à frente surge imponente das águas o Forte de São João Baptista. Com forma heptagonal irregular, foi mandado construir em 1651 por D. João IV. Quinze anos depois, em 1666, foi atacado por uma esquadra castelhana. A guarnição de 28 soldados comandados pelo cabo António Avelar Pessoa aguentou as defesas por 3 dias e quando os espanhóis se preparavam para a retirada, um traidor, de noite a nado, informou-os que a pólvora teria acabado no forte. Um novo ataque surge então. Depois de tomada a praça e feito prisioneiros os soldados que estoicamente aguentaram, é já num barco que os conduzia para Espanha que o Cabo Avelar Pessoa acabaria por morrer.
A sua capacidade de resistência e o seu heroísmo são ainda hoje recordados. O seu nome ainda viaja a bordo de um barco que faz hoje a travessia Peniche – Berlenga.
Hoje, o forte está recuperado. Infelizmente permanece fechado o que nos impediu de o visitar. Foi no seu patamar exterior que descansámos e saboreámos o recheio das mochilas.
Regressámos pelo mesmo trilho até ao bairro dos pescadores onde aguardámos o transporte de barco até Peniche.
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