O “Trilho do Arquinho” é um percurso pedestre linear com aproximadamente 5km, inserido no trajecto da Via Augusta XVII, a Grande Rota 117 (GR117), com cerca de 800 kms de extensão em Portugal e Espanha. Liga a aldeia de Possacos, no concelho de Valpaços, ao “Lugar da Barca”, no rio Rabaçal, por caminhos rurais e calçada romana.
Chego a Possacos com o céu pesado, ameaçando chuva a qualquer instante. Ponderei a realização do percurso e decidi avançar.
Com uma grande actividade agrícola, nomeadamente vinho, azeite, fruta e espécies leguminosas, a aldeia caracteriza-se também por algumas edificações importantes, como é o caso da Igreja Paroquial, fontes de mergulho, solares e diversos vestígios romanos.
No Largo da Barreira inicio a caminhada que me permitirá conhecer Possacos e depois percorrer o “Trilho do Arquinho”, assim denominado pela presença da Ponte Romana do Arquinho, sobre o rio Calvo.
Percorro as ruas da aldeia descobrindo a Capela do Senhor dos Aflitos e pela Rua do Cruzeiro chego rapidamente à Igreja de Nossa Senhora das Neves, em cujo interior existem significantes conjuntos de talha dourada. Encaminho-me pela Rua Direita, onde a imponência dos solares de época contrastam com outras habitações mais humildes. Junto à Estrada Nacional 206 (EN206), a Fonte de Mergulho de Possacos tem grande destaque no largo onde o pelourinho também compartilha as atenções.
Percorro cerca de 400m na estrada nacional até encontrar o pequeno parque de merendas, com mesas em pedra, num relvado bem cuidado. No painel informativo obtenho uma rápida panorâmica descritiva desta secção da Via Augusta.
Viro ligeiramente à esquerda e percorro um caminho murado em terra batida, ladeado por pomares e terras de cultivo. As cerejeiras estão tombadas com tantos frutos, cerejas vermelhas apetitosas que dão cor a esta paisagem rural.
A cerca de 200 metros mais adiante, cruzo a EN206 seguindo as placas bem visíveis com indicação da “Ponte do Arquinho” a 1,1kms.
Ziguezagueio o monte em trilhos de grandes lages, onde predomina o granito porfiróide conhecido também por granito “dente de cavalo”, que outrora serviam de passagem a colunas romanas.
À medida que desço em altitude, ouço cada vez mais perto as águas do rio Calvo. Chego finalmente à famosa Ponte Romana do Arquinho.
Enquadrada numa galeria natural, num ambiente rural com uma beleza peculiar, a ponte romana permanece ainda hoje num razoável estado de conservação, sendo um exemplar notável da construção do período romano, resistindo ao passar dos séculos, e que une com firmeza as duas margens do rio Calvo. É construída em blocos de granito, com um só arco de volta perfeita, e apenas possui parapeito a jusante.
Tenho alguma dificuldade em encontrar o melhor ângulo para as fotografias, pois a vegetação esconde grande parte da estrutura da ponte. Fetos viçosos, entre outra vegetação luxuriante, crescem livremente nas margens do Calvo, embalando as suas águas pelo caminho certeiro, por baixo do arco da ponte.
Inicio agora a subida, num caminho de pé posto, até ao asfalto da EN206. Poucos metros adiante, entro à direita num pinhal que acompanhará o trilho descendente quase até ao “Lugar da Barca”, no Parque de Campismo do Rabaçal, onde terminará o percurso. Este nome tem origem numa suposta barca que em tempos idos fazia a travessia do rio Rabaçal.
É nesta fase que o único receio do gaulês Obélix se concretiza: o céu cai mesmo em cima da minha cabeça! Das nuvens negras que me acompanhavam há já algum tempo, começa a cair um dilúvio digno de uma nova Arca de Noé. Como não tinha tempo para a construir, nem muito menos detinha os dotes de Noé, o melhor a fazer era mesmo esperar que passasse.
O avanço era feito muito lentamente entre pinheiros e outras árvores de copa larga, que me pudessem proteger minimamente de tal enxurrada.
Escusado será dizer que quando finalmente cheguei às instalações do Parque de Campismo, escorria água da cabeça aos pés. Piorando ainda a situação, o portão do Parque, onde supostamente terminava o caminho, estava fechado e a solução de recurso foi subir o morro para encontrar o alcatrão da estrada nacional e descer nesta os últimos metros até à Ponte de Vale de Telhas.
Já abrigado, esperei que a chuva parasse definitivamente, para poder terminar com algumas fotografias e vídeos deste lugar lindíssimo nas margens do Rio Rabaçal.

FICHA TÉCNICA
Distância
4,93 kms
(linear – só ida)
ALTIMETRIA
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