Este não é propriamente um texto sobre uma caminhada. Por outro lado, até pode ser…é um grito de alerta para um património incrível que efectivamente caminha a passos largos para um futuro triste se nada entretanto for feito.
Na localidade de Seiça, concelho da Figueira da Foz, existe um magnífico imóvel, o Convento de Santa Maria de Seiça, carregado de história e em sério risco de desaparecer de vez. Neste momento as ruínas estão já em avançado estado de degradação como pude comprovar “in loco”.
Percorro o país a caminhar e por vezes termino as caminhadas entristecido quando encontro locais ou património que merecem melhor atenção por parte de todos nós. Este caso existe no concelho onde nasci e por isso é também parte de mim.
O Mosteiro sofreu diversas alterações, quer de estrutura, quer funcionais ao longo dos tempos. Foi inclusive uma fábrica de descasque de arroz que encerrou em 1976. Em 2002 foi classificado como Imóvel de Interesse Público (podem ver mais detalhes da sua história no website www.mosteirodeseica.com).
Felizmente algumas forças locais e pessoas de boa vontade lutam para que este fim quase certo não aconteça, como é o caso da Associação dos Amigos do Convento de Santa Maria de Seiça (smseica.org). Esta Associação tem em mãos vários projectos para dinamizar o local, apostando em várias frentes para revitalizar o que há uns tempos atrás parecia perdido.
No dia em que visitei o local para a realização deste pequeno testemunho, alguns elementos da Associação endereçavam os seus esforços na tentativa de salvar uma cegonha que tinha sido alegadamente envenenada pelos químicos usados nos campos de arroz. Explicaram-me que induziram o vómito à ave e esta regurgitou restos de lagostim, pelo que se supõe que a sua última refeição tenha sido nos arrozais onde os lagostins são abundantes. A poucos metros desta uma outra jazia já há algumas horas. Enquanto conversávamos, outras permaneciam nos vários ninhos espalhados pelas torres do convento. Observavam atentamente as movimentações cá em baixo. O som produzido pelo intenso bater de bico, comparável talvez ao disparo de uma metralhadora, significava talvez um chamamento de alarme.
Nada mais podia ser feito e a cegonha que lutava pela vida, morreu.
FICHA TÉCNICA
Folheto/Mapa
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