Caminhada da Fajã Grande à Aldeia da Cuada (Lajes das Flores – Flores)
A Fajã Grande é o local mais ocidental de toda a Europa e só isso era já motivo suficiente para uma visita. Foi também a freguesia onde terminámos o percurso pedestre “PR1 FLO – Fajã Grande – Ponta Delgada“, algo cansados do esforço de progredir em terrenos lamacentos e escorregadios, mas com a alma cheia pelas paisagens que, quando o nevoeiro permitia, íamos descobrindo.
Ainda tínhamos força nas pernas para mais uma caminhada e assim percorremos a povoação da Fajã Grande, as ruas à beira mar e os caminhos mais estreitos, ladeados por muros de pedra sobreposta que delimitavam os terrenos de sustento familiar. Apesar do solo fértil, a maioria dos terrenos está hoje abandonada, devido à recessão demográfica que a localidade sofreu.
Junto ao porto, que já foi uma das principais portas de entradas na ilha e hoje é apenas usado pelas embarcações locais, encontramos a zona balnear e o Merendário da Fajã Grande, um pequeno parque de merendas que proporciona aos veraneantes umas horas bem passadas em convívio.
Na povoação constatamos o isolamento, agora menos extremo, a que os seus habitantes foram sujeitos durante anos. Apesar de ser uma das freguesias mais povoadas do concelho de Lajes das Flores, foram poucos os residentes que encontrámos nas ruas. Muitas casas estão em ruínas, abandonadas à sua sorte e sem vida que as desfrute neste pedaço de terra beijado pelo mar e protegido pelas escarpas rochosas nas suas costas. Delas caem estrondosas cascatas que riscam as paredes negras de um branco cristalino, sendo talvez a mais conhecida a denominada “Poço do Bacalhau”. Um lugar que merece uma visita prolongada.
Das escarpas rochosas caem estrondosas cascatas que riscam as paredes negras de um branco cristalino, sendo talvez a mais conhecida a denominada “Poço do Bacalhau”.
Na Avenida Marginal, as piscinas naturais hoje vazias, esperam dias mais quentes e a consequente avalanche de veraneantes para uns banhos refrescantes nas águas atlânticas. É um deleite para todos os florentinos e para quem visita a costa oeste das Flores. Ao largo, o desabitado Ilhéu de Monchique ouve em solidão o murmurar das águas e vigia quem navega por estes lados.
De regresso ao centro da povoação, foi na rua principal, perto da Igreja de São José que descobrimos uma pequena mercearia onde nos abastecemos de mantimentos para as próximas refeições. Trocámos uns deliciosos momentos de conversa com uma natural de Ponta Delgada, a povoação situada no extremo norte da ilha, que agora assume que a Fajã Grande é a sua casa. Comentava-nos que em trinta anos, apenas saiu para ir uma vez a S. Miguel, outra ao Porto e outra a Lisboa. Foi o suficiente…era na Fajã Grande que gostava de estar.
Iniciámos a subida até à Aldeia da Cuada. Sem grandes margem para enganos, seguimos sempre pela berma da estrada em alcatrão, com o máximo de cuidado aquando da passagem de algum automóvel.
O nevoeiro já nosso companheiro fiel deste dia deu lugar a um forte aguaceiro, um pouco antes de chegarmos à Capela de Santo António. Aguardámos um pouco, abrigados no telheiro de uma habitação.
Chegámos à Cuada já com as pernas em “modo automático” e passeamo-nos pelos seus caminhos ancestrais. Para além das habitações recuperadas para turismo rural e outras valências de suporte aos turistas, existe também a bonita Casa do Espírito Santo, datada de 1841, que merece uma visita.
Foi nesta pequena aldeia paraíso que serenamente aguardámos pelo cair da noite, a última passada nas Flores antes de nos despedirmos (pelo menos por agora).
Amanhã tínhamos viagem marcada para o Corvo.
só ida

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